Em 18 de Março de 2020 a Associação de Psicologia da Universidade do Minho lançou a primeira linha telefónica universitária de apoio psicológico em situação de crise. Este apoio tem a colaboração de especialistas e psicólogos afetos à Escola de Psicologia da Universidade do Minho e do Centro de Medicina Digital P5. Ao longo de um ano, a linha de Apoio Psicológico SOS COVID-19 contou com a participação de uma equipa de 41 psicóloga/os, que reuniu com periodicidade semanal ou quinzenal para supervisão. O apoio psicológico, disponibilizado no âmbito desta linha, foi destinado a ajudar estudantes, docentes, e funcionários da Universidade do Minho, bem como a sociedade civil dos municípios de Braga e Guimarães.

Num cenário invulgar como o que caracteriza a pandemia COVID-19, de alteração das rotinas e confinamento dos espaços físicos e relacionais, em que a perceção de segurança pessoal, a diferentes níveis, pode estar ameaçada em algum momento, respostas de instabilidade emocional e comportamental são normais, mas podem ser difíceis de aceitar e de regular. A APsi-UMinho através da Linha de Apoio Psicológico SOS COVID-19 esteve, ao logo deste ano, empenhada em contribuir para ajudar toda a comunidade académica, assim como comunidade envolvente da Universidade do Minho, a lidarem com estes desafios à Saúde Mental.

Os profissionais envolvidos prestaram apoio psicológico em crise, a pessoas que recorriam à linha em situações de sofrimento relacionado com o impacto psicológico da pandemia COVID-19, ajudando a identificar e suportar recursos adequados para lidar com as dificuldades ou preocupações imediatas, facilitar o autocuidado e informar/orientar para estruturas de apoio mais adequado a problemas de natureza específica. Desde março de 2020, foram efetuados 105 atendimentos no âmbito da linha. A maioria (74%) destes atendimento ocorreu entre março e maio e os restantes 26% foram efetuados desde julho de 2020 até Março de 2021, sendo que neste período apenas 5 pedidos foram de elementos da comunidade académica. A natureza dos pedidos de ajuda relacionou-se com dificuldades ou preocupações pessoais e familiares (74%), de natureza académica (8,7%), pedidos de informação e outros assuntos (15%). A intervenção psicológica respondeu a necessidades de estabilização emocional (66%), de compreensão e organização da experiência que motivou o pedido (20%), de informação académica ou outra (7,8%), e de encaminhamento para outros serviços para resolução de questões académicas mais especificas ou para acompanhamento psicológico mais estruturado e continuado (6,7%). Cerca de um terço dos pedidos (28,2%) motivaram um contacto para monitorização do bem-estar e estabilidade emocional do/a utente.

Na sequência do trabalho desenvolvido no contexto da Linha SOS Covid-19, foram desenvolvidos materiais de suporte à intervenção do/as psicólogo/as colaboradores/as da linha e materiais de autoajuda, atualmente disponíveis da página da APsi (https://apsi.uminho.pt/covid-19/). A linha de intervenção em crise SOS COVID-19 orientou-se por um modelo de intervenção em crise, diferenciado em função de problemas e necessidades psicológicas especificas, da autoria de investigadores da Escola de Psicologia da Universidade do Minho em articulação com a APsi-UMinho, tendo sido publicado em junho de 2020 na revista internacional Counselling Psychology and Quartely (Ribeiro et al., 2020).

Enquanto coordenadora da Linha de Apoio Psicológico SOS COVID-19, agradeço o trabalho e empenho de todo/as o/as psicólogo/as que colaboraram na linha, assim como a confiança de todos os utentes que a nós recorreram.

(Eugénia Ribeiro, coordenadora da Unidade de Intervenção APsi-Uminho)

 

Testemunhos de psicólogas

“Num período de muitas incertezas, em que o medo, a insegurança e a adaptação foram e são palavras de ordem, poder fazer parte de uma equipa especializada que investe todo o seu know-how em prol da comunidade tem sido uma experiência positiva, enriquecedora e salutar. Ao longo deste ano de funcionamento da linha de apoio SOS COVID-19, sobressai o trabalho em equipa, a partilha de experiências e o apoio entre todos. Não somos só mais uma linha de apoio. Somos uma linha de apoio com rostos, com vozes familiares, objetivos comuns e muitas aprendizagens partilhadas”.

(Patricia Mendes, Psicóloga APsi)

 

“Num momento particularmente desafiante para todos, a participação na linha de apoio psicológico, contribuiu para que me sentisse útil, e com um papel ativo na promoção da saúde mental. De igual modo, contribuiu para que tivesse um contacto mais abrangente com as dificuldades experienciadas pelas pessoas neste contexto pandémico, e a refletir acerca dos recursos que podem ser mobilizados para enfrentar todas as exigências”.

(Carina Magalhães, investigadora CIPsi e Psicóloga APsi)

 

“A pandemia surgiu repentinamente, mas rapidamente causou inúmeras alterações na nossa vida, interferindo no bem-estar e saúde mental. Tal veio realçar e reforçar a necessidade e importância de também se cuidar da saúde psicológica. Com a minha participação na Linha de Apoio Psicológico SOS COVID-19 pude ouvir pessoas num momento de crise, compreender o impacto negativo que toda a situação pandémica estava a ter e o que esta estava a exigir de cada pessoa que procurou esta Linha. Ninguém estava à espera de enfrentar e lidar com uma situação destas e, através desta Linha pude contribuir e dar apoio psicológico a estas pessoas. Esta Linha foi e é, não só importante, mas também fundamental para a prestação de apoio psicológico de quem precisa em situações de crise, como esta que ainda vivemos”.

(Gabriela Santana, Psicóloga APsi)

 

“A minha experiência na linha começou desde o primeiro dia da mesma. Foi uma oportunidade extremamente enriquecedora, tanto a nível profissional, enquanto psicóloga, como pessoal. E saber que a partir de casa poderia continuar a prestar suporte a quem precisava, mesmo que de uma forma breve, foi muito gratificante. Foram momentos de desafio mas também crescimento contínuo!”

(Célia Sampaio, Psicóloga APsi)

 

“A minha participação na Linha SOS COVID19, apesar de curta, tem sido muito enriquecedora.  Ainda que não tenha atendido muitas chamadas, a partilha das experiências dos colegas e da discussão dos casos que nos chegam, são oportunidades únicas de aprendizagem e têm contribuído para a aquisição de competências de atendimento e de intervenção, principalmente em situações de crise. Assim, caracterizo esta iniciativa como notável, uma vez que proporciona aprendizagens significativas para o meu crescimento pessoal e profissional”. 

(Mariana Dias Pereira, Psicóloga APsi)